Uma breve descrição do problema da queda de qualidade dos livros didáticos no Brasil - o que pensam os professores?
INTRODUÇÃO:
Em 1937, durante o governo de Getúlio Vargas, a Constituição previa ações de oferta de livros didáticos para as escolas públicas do Brasil — plano que só foi formalizado em 1985, com a criação do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), posteriormente organizado pelo Ministério da Educação (MEC). O objetivo era distribuir livros para o Ensino Fundamental, e, por isso, passaram a ser produzidos em larga escala. Em 1996, com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), o projeto foi ampliado, estendendo-se ao Ensino Médio, à Educação Infantil, bem como à distribuição de livros literários.
O QUE OS PROFESSORES PENSAM:
Ao conversar com professores de diversas disciplinas, percebi uma certa regularidade nos argumentos apresentados: em algum momento, a frase “a qualidade técnica diminuiu” surgia com frequência. Minha surpresa foi ainda maior ao observar diretamente, por meio de uma análise comparativa, livros didáticos publicados antes de 2010 e os atuais. Embora os autores permaneçam, em sua maioria, os mesmos, a necessidade de adequação a uma extensa lista de exigências dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e da carga horária das aulas fez com que obras de autores renomados passassem a “recortar” conteúdos, reduzindo significativamente o número de páginas dedicadas a cada tema.
Percebe-se, assim, um declínio no nível técnico-instrutivo e um aumento de textos que pouco agregam ao conteúdo central. Nos manuais do professor — geralmente o mesmo livro recebido pelos alunos, acrescido de resoluções de exercícios, textos relacionados à estrutura curricular vigente e sugestões de leitura —, observa-se a ausência de aprofundamento teórico que expanda a base de conhecimento do docente que adota (ou não) determinada coleção.
Além disso, a quantidade de perguntas, exercícios, experimentos, orientações e questões de vestibulares foi expressivamente reduzida, o que compromete o papel do livro como recurso didático. Diante da ampliação do acesso à informação, a internet tornou-se mais útil ao professor do que o material impresso. Nela, é possível encontrar conteúdos atualizados, listas de exercícios gratuitas, bancos de imagens, textos e figuras.
A título de exemplo, a coleção Física Clássica, de José Luiz Sampaio e Caio Sérgio Calçada, que originalmente possuía cinco volumes, foi reduzida para três — um para cada ano do Ensino Médio —, implicando na diminuição do conteúdo técnico. Com sensatez, os autores incluíram CDs complementares à nova edição. Outro caso é a coleção Biologia, de José Mariano Amabis e Gilberto Rodrigues Martho, que manteve o número de volumes (três), mas reduziu drasticamente a quantidade de páginas. Os exemplos são inúmeros e refletem um impacto real na prática docente, pois o livro, uma das mais importantes criações da humanidade, continua sendo o principal instrumento no exercício da profissão docente.
AMPLIANDO A VISÃO:
Ao expandir o olhar para além dos livros didáticos, nota-se que tanto alunos quanto professores — estes últimos sobrecarregados por extensas jornadas de trabalho — estão lendo cada vez menos. Como consequência, observa-se o empobrecimento do vocabulário, da memória e da capacidade de raciocínio dos brasileiros em geral. A leitura de livros com mais de 200 páginas tornou-se rara. As redes sociais, ao capturar a atenção das pessoas com conteúdos rápidos e fragmentados, impactam diretamente na capacidade de concentração.
A música contemporânea, por sua vez, muitas vezes carece de conteúdo significativo e, em grande parte, utiliza linguagem imprópria e distante da norma culta da língua portuguesa. A ausência de conteúdo técnico e de linguagem formal na formação dos indivíduos gera mudanças sociais evidentes. A leitura de clássicos e obras técnicas é parte essencial no processo de formação do imaginário coletivo de um povo.
Outro problema alarmante é a inserção de ideologias políticas nas obras didáticas, comprometendo a neutralidade científica e histórica. Conhecimentos sobre a monarquia, economia, grandes revoluções e períodos históricos, como a Idade Média, frequentemente sofrem distorções que distanciam o conteúdo dos fatos e o aproximam de interesses partidários e opiniões pessoais.
Um dos grandes desafios do universo educacional atual é o excesso de recursos digitais em detrimento dos métodos analógicos. As mais recentes descobertas da neurociência indicam que métodos considerados "ultrapassados" — como a leitura de livros impressos, a escrita manual, a anotação e o uso de técnicas mnemônicas — são extremamente eficazes no processo de aprendizagem.
O QUE A CIÊNCIA DIZ:
Esses métodos, consagrados pelo tempo, continuam válidos. Afinal, mesmo antes da internet, o avanço do conhecimento era notável. Parafraseando Pierluigi Piazzi, “estudar é, essencialmente, escrever à mão, ler livros impressos, analisar mapas e organizar seus raciocínios, pois, ao fazer isso, as informações são armazenadas na memória de longo prazo e o cérebro estabelece conexões cada vez mais complexas. A integração de informações dispersas gerando raciocínios e ideias é o que constitui o conhecimento”.
Para Augusto César Morgado, decorar faz parte do aprendizado. Ele afirmava que o que nos faz memorizar informações é a frequência com que as utilizamos. Dava como exemplos: “o número do telefone da sua casa, seu CPF, a senha do cartão de crédito [...]", que são lembrados justamente porque são frequentemente acessados e, portanto, internalizados.
TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA:
Os livros didáticos apresentam uma estrutura própria que facilita o aprendizado dos temas que abordam. O autor, ao escrever, deve organizar o conteúdo com início, desenvolvimento e conclusão, de modo a explicar, desenvolver, provocar reflexões e ensinar. Para isso, o conhecimento bruto passa por um “filtro” que o transforma em leitura acessível e eficiente.
Por exemplo, um livro sobre a gravitação universal de Newton, direcionado ao público do Ensino Médio, deve descrever matematicamente os fenômenos gravitacionais à luz da mecânica clássica. Contudo, muitos dos resultados exigem técnicas matemáticas ensinadas apenas no Ensino Superior. O autor, então, recorre a recursos simplificados e justificativas didáticas para adaptar o conteúdo ao leitor-alvo.
Mais adiante, ao ingressar na universidade, o estudante revisitará esses conceitos sob um olhar mais técnico e analítico. Em suma, o processo de aquisição do conhecimento envolve etapas sucessivas de construção, desconstrução e reconstrução. O livro é, nesse processo, uma das ferramentas mais valiosas, pois é como se o autor acompanhasse o aluno durante sua jornada de aprendizagem. Por isso, é fundamental formar alunos leitores e treiná-los para lidar com o conteúdo impresso — prática comum entre todos os bons profissionais após a conclusão da educação formal.
Prof. Fernando A. Irodov
Podemos verificar tudo isso na prática, a qualidade do ensino só tem caído. Estudantes que vão por obrigação às escolas, família que mandam literalmente seus filhos por causa da obrigação (bolsas, dinheiro e etc...). Professores desmotivados, cansados. Dentro do conteúdo de história os livros superficiais, valorizam a república, o comunismo e o socialismo naquilo que eles querem passar como bom, não relatam sobre a fome, morres tanto daqueles que não compartilham das suas ideologias quanto das minorias contrárias as vertentes ideológicas do partido. O Império do Brasil é contextualizado de forma vulgar e no máximo 5 páginas, Dom João VI ridicularizado tanto em livros e pela mídia que não estuda e não conhece sua história, brasileiro em sua maioria é obra da ideologia republicana, então a visão do estadista Dom João, o Rei Imperador que com sua astúcia enganou Napoleão e apaixonou pelo Brasil ( não queria voltar para Portugal), recebe a infeliz caricatura da república brasileira como bonachão que só comia coxinha de frango. E nós bancamos todas as regalias das famílias presidenciais ( isso o povo não conta), os livros não mostram, ao invés de bancarmos uma que trabalha, ou seja, pagar quem realmente merece por conta do seu carácter, dever com a pátria e educação de nascimento, a família Imperial e Real do Brasil por que essa fala? Porque quando se fala de monarquia o povo sem instrução diz: eu bancar uma família no luxo? Sim, se é assim prefiro uma do que na atual situação são: Sarney. Collor, Fernando Henrique, Lula, Dilma, Temer, Bolsonaro e lula de novo. Os livros não traz a crítica, o sistema não deixa os estudantes aprenderem, ou melhor impõe que passem todos sem saber e a culpa recai sobre a escola, então é preferível fazer o que a ideologia prega, passar , porque o governo tem como continuar a manobrar a massa, sem a crítica e sem oposição de conhecimento.
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